Por Belisa Figueiró
O Reach – Encontro internacional sobre audiências no mercado audiovisual foi inaugurado na manhã desta segunda-feira, dia 7 de outubro, debatendo as estratégias de alcançar os diferentes públicos de maneira mais ampla e efetiva. O plateia lotou a sala 3 do Espaço Itaú de Cinema, em São Paulo, atraindo desde realizadores, produtores, distribuidores, agentes de vendas até gestores públicos do audiovisual brasileiro.
Na cerimônia de abertura, o diretor do BrLab, Rafael Sampaio, destacou a importância da parceria com o Projeto Paradiso na realização deste evento, que segue até a próxima quarta-feira. Olga Rabinovich, fundadora do instituto que leva o seu nome, também ressaltou a parceria e apresentou o escopo e a missão do Projeto Paradiso, do qual é a idealizadora, nesse processo.
Os dois participantes internacionais da mesa foram apresentados pela curadora do Reach, Paula Gastaud, que esmiuçou os objetivos do encontro em trazer a audiência para o centro do debate da distribuição do conteúdo audiovisual.
O primeiro a falar foi o produtor Marcelo Quesada. Atualmente, ele trabalha no projeto Pacífica Grey, voltado para a distribuição e exibição de conteúdo independente na América Central.
A partir do relatório do Nostradamus, que foi elaborado pelo Festival de Gotemburgo (Suécia), ele procurou demonstrar a fundamental importância de explorar as conexões emocionais entre os filmes e a audiência. Pelo relatório, as previsões não são muito animadoras e é preciso repensar a forma de integrar o público desde o início.
Entre outras questões, o Nostradamus prevê que nos próximos anos os filmes médios não terão espaço no mercado; que os filmes independentes não serão exibidos nas salas de cinema; que o circuito exibidor só poderá sobreviver se fizer as sessões-evento para os blockbusters; que as pessoas cada vez mais vão assinar mais plataformas de VOD para assistir a conteúdos exclusivos; e que os grandes players vão mudar o conceito de “lucro” no mercado audiovisual.
Nesse cenário pouco favorável, Quesada lembrou que atualmente “há filmes demais” para um público que tem um tempo limitado de consumo. E que inclusive os próprios hábitos de consumo já estão mudando esse mercado. Em suas palavras, a tendência é que “a maioria dos filmes não serão vistos e não serão lucrativos” e é por conta disso que o design de audiência acaba sendo essencial para reverter essa previsão.
Greta Nordio, que dividiu a mesa com Quesada, foi ainda mais direta ao explicar o que é, afinal, o design de audiência e como ele pode reestruturar essa lógica.
De acordo com ela, o design vai muito além das estratégias de marketing tradicionais já realizadas pelos distribuidores. Hoje é preciso saber para quem estamos fazendo os nossos filmes e o que esse público quer assistir. Ao mesmo tempo em que o público está se dividindo entre várias plataformas, não é impossível alcançar públicos globais. Existem, portanto, novas oportunidades a serem exploradas.
Para Greta, o design de audiência se divide em duas frentes: história e público. Essa audiência quer assistir a algo diferente do que ela encontra todos os dias nas telas. “O que precisamos é perguntar para quem queremos contar essas histórias? Ou seja, usar essas histórias para criar uma conexão entre a história e o público”, disse ela. No processo de desenvolvimento, isso significa entender o filme etapa por etapa, e não apenas na pós-produção ou quando ele já está finalizado e indo para o distribuidor.
Nesse momento, Quesada acrescentou que o design de audiência trabalha em tópicos, dividindo o filme em partes pequenas e identificando quais ações poderiam ser mais efetivas a partir dessa análise minuciosa da obra.
“Não é tão diferente das estratégias de marketing de distribuição, mas os distribuidores não têm tempo para pensar nisso. O design é uma abordagem de distribuição mais criativa, geralmente com pessoas que trabalham com a realização dos filmes, pensando no personagem, na narrativa. Não é um trabalho a ser feito por alguém do marketing, mas por quem está dentro do processo”, disse ele.
Em outras palavras, o design de audiência analisa o roteiro para dar uma vida mais longa ao filme, para além das três semanas que ele poderá alcançar nos cinemas, criando um equilíbrio entre os números (espectadores, lucros) com o impacto emocional desse filme. As empresas pequenas, independentes, segundo Quesada, têm um perfil mais próximo de executar essa dinâmica, inclusive buscando a sua própria sobrevivência nesse mercado.